Mensagem de 25 de fevereiro de 2015



"Queridos filhos, neste tempo de graça, eu convido todos vocês: rezem mais e falem menos. Na oração busquem a vontade de Deus e vivam-a segundo os mandamentos pelos quais Deus os chama. Eu estou com vocês e rezo com vocês. Obrigada por terem atendido ao meu chamado."




Comentário da Mensagem

Neste tempo de graça, rezem mais e falem menos!

 

Estará Nossa Senhora a fazer uma sugestão para a Quaresma? Como que a dizer: façam deste tempo um tempo de graça, rezando mais e falando menos… ou antes: procurem dar tempo ao tempo de Deus… sem sair do tempo, entrem no tempo!

 

Na Missa de Quarta-Feira de Cinzas com que iniciámos este tempo da Quaresma, escutámos uns versículos da segunda Carta de São Paulo aos Coríntios: «“Ouvi-te no tempo favorável e ajudei-te no dia da salvação”. É este o tempo favorável, é este o dia da salvação» (2 Cor 6,2). Que tempo é este? O tempo favorável, aquele que Jesus inaugurou com a Sua manifestação, morte e ressurreição, um tempo novo: o kairós.

 

Porém, nós vivemos consumidos pelo khronos, por aquele tic-tac irritante do relógio, ditador cruel que nos pressiona e escraviza. De tal forma que, na nossa linguagem corrente, usamos só uma palavra para significar o "tempo": o khronos, pois claro, ou seja, o tempo cronológico, sequencial, o tempo que se mede, o tempo que foge… O Padre Tolentino Mendonça, poeta e homem da cultura, observa:«Nós dizemos, repetindo um provérbio que os latinos já usavam,que o tempo voa (tempus fugit). De facto, tudo o que é humano é feito de tempo, mas a experiência que mais vezes nos ocorre é a de não termos tempo. «Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante para ti», explicou a raposa ao Principezinho. Há uma qualidade de relação que só se obtém no tempo partilhado. Por alguma razão, esse raro Mestre de humanidade chamado Jesus, disse: «Se alguém te pede para o acompanhares durante uma milha, anda com ele duas». Só com tempo descobrimos tanto o sentido e a relevância da nossa marcha ao lado dos outros, como o da nossa própria caminhada interior. Sem tempo tornamo-nos desconhecidos. Sem tempo falamos, mas não escutamos. Repetimos, mas não inventamos. Consumimos, mas não saboreamos. É verdade que mesmo num rápido relance se pode alcançar muita coisa, mas normalmente escapa-nos o detalhe. E Deus habita o detalhe.

 

Sejamos realistas: não há como fugir do khronos, do "tempo humano" – que se pode tornar tão desumano! - enquanto permanecermos nesta peregrinação para a Casa do Pai: “tudo o que é humano é feito de tempo”. Porém, assim como experimentamos desde já a vida eterna, também podemos fazer a experiência do kairós, "o tempo de Deus" que não pode ser medido, pois "para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos como um dia”. O tempo que o Principezinho, perdeu com a sua rosa, o tempo que excede o tempo razoável com que mimamos um irmão fazendo-lhe companhia, aquele tempo que dá para nos apercebermos do detalhe onde Deus Se revela, é o kairós no khronos, é o "tempo de graça”, é o tempo sem o qual não há Quaresma vivida.

 

Kairós, o tempo oportuno, a oportunidade favorável, o momento certo, a forma qualitativa do tempo, é o tempo de Deus, o tempo que não pode ser medido, é o tempo livre do peso dos fardos que nos arrasam e da ansiedade das coisas que acontecem. O khronos sem a experiência do kairós, não é mais que o tempo que foge, o que falta para a morte: submete-nos, controla-nos, esgota-nos e acabará por nos devorar. Andas irritado, impaciente, ansioso? Dá tempo ao tempo de Deus! “Não tenho tempo!”… Tens tempo, sim. O tempo – o kairós e o khronos - é de Deus. São, portanto, criaturas de Deus, como as nuvens, o ar, a água. Deus age em ambos e através de ambos. Aquele que te deu a existência, é quem te dá o tempo para os negócios, mas dá-te também o outro tempo, para te consolar, para te amar… e para que tu possas amar e consolar!

 

Voltemos à reflexão do Padre Tolentino: «Não é verdade que não temos tempo. A nossa vida está cheia de tempos. Precisamos identificá-los e tratar deles, como quem cuida de um tesouro. Não é a quantidade de tempo o mais determinante. Importante é perguntar-se o que fazemos do tempo e investir aí a matéria dos nossos sonhos».

 

“Façam como eu: rezem mais e falem menos!”… Bem, na verdade somos nós a pôr na boca da Virgem estas palavras que a Sua humildade A inibem de dizer. Sendo o modelo de todo o discípulo, nunca Se apresentou como tal, por isso, ao contrário de Paulo, Ela seria incapaz de dizer “sêde meus imitadores” ou “façam como Eu” mas, ao convidar-nos neste “tempo de graça” a uma oração mais intensa e a fazer jejum de palavras, está a dizer-nos que vivamos a Quaresma ao seu jeito. “Maria guardava todas estas coisas, meditando-as no coração” (Lc 2, 19): meditando os mistérios da vida, caminhando na fé, cheia de paz e de confiança, repousando no tempo de graça que A preenche, perscrutando a vontade de Deus, vai construindo com Ele uma intimidade fantástica que A faz experimentar o céu ainda antes de subir ao céu em corpo e alma.

 

O silêncio de Maria não é ausência, mas presença activa. Nada nem ninguém Lhe é indiferente… força mesmo o primeiro milagre de Jesus, em Caná (Jo 2, 1-11).  Atenta a tudo e a todos, ao dar-Se conta de que o vinho estava a acabar, cheia de confiança no Filho, diz aos criados: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Os criados fizeram e a graça foi alcançada.

 

Não é preciso pedir-Lhe, basta que Maria esteja presente na nossa vida para que Ela interceda e o tempo de graça, carregado de graças, aconteça. Vivendo com Ela a Quaresma, na inevitável sucessão dos dias que passam, irromperá neles o tempo de Deus que permanece; a obsessão pelo cuidado do nosso terreno, dará lugar ao cuidado do terreno de Deus em nós – a nossa alma – e veremos a nossa vida espiritual, sensaborona como a água, transformar-se no mais preciso vinho; Ela nos ensinará a fazer o silêncio necessário à escuta da Palavra e ao perscrutar da presença de Deus que inevitavelmente nos remete para a partilha com os irmãos.

 

Partilha de bens materiais, naturalmente, sem esquecer aquela fome que não é fome de pão… Que fome é essa? Deixemos que seja São João Paulo II a dizer-nos como disse em Agosto de 2004 aos jovens, na mensagem que lhes dirigiu como preparação da Jornada Mundial da Juventude a que já não presidiu porque, entretanto, foi para o céu: «São tantos os nossos contemporâneos que ainda não conhecem o amor de Deus, e procuram encher o seu coração com sucedâneos insignificantes. É urgente, por conseguinte, sermos testemunhas do amor contemplado em Cristo. […] A Igreja precisa de testemunhas autênticas para a nova evangelização: homens e mulheres cuja vida seja transformada pelo encontro com Jesus; homens e mulheres capazes de comunicar esta experiência aos outros. A Igreja precisa de santos. Todos somos chamados à santidade, e só os santos podem renovar a humanidade».

 

De novo o Papa Francisco se antecipou ao pedido de Nossa Senhora na mensagem deste mês: «rezem mais e falem menos». Na meditação matutina do passado dia 3 de Fevereiro, exortou os fiéis a usar esse poderoso instrumento que é Bíblia, como ponto de partida para a oração: «Mesmo que sejam somente 10 minutos, apenas uma página, a fim de que no dia haja um momento de diálogo com o Senhor, ao invés de perder tempo vendo novela ou ouvindo conversas do vizinho». Mais tarde insistiu: «Precisamos da oração de contemplação. Claro, devemos rezar o terço todos os dias, conversar com o Senhor quando surge um problema, ou com a Virgem Maria ou com os santos... Mas nada substitui a oração de contemplação que só se pode fazer com o Evangelho na mão. […] "Mas eu tenho tanta coisa para fazer!”. Sim, mas em casa, pega no Evangelho, um pequeno trecho, com a imaginação compõe a cena e conversa com Jesus como se tivesses estado lá. Chegam 15 minutos. Assim o teu olhar se fixará em Jesus, e não na novela; o teu ouvido ficará preso nas palavras de Jesus e não nas conversas do vizinho, da vizinha...».

 

Na oração procurem a vontade de Deus e vivam-na segundo os mandamentos

 

Jesus disse aos discípulos que Lhe aprontassem uma pequena barca a fim de não ser apertado pela multidão… os que Ele havia curado lançavam-se sobre Ele para O tocarem (cf. Mc 3, 9-12).Recentemente, o Santo Padre, comentando esta passagem do Evangelho, com todo o realismo dizia: «A multidão seguia Jesus para ser curada, ou seja, buscava o próprio interesse. O Santo Padre recordou que raramente alguém segue Deus, desde o início, com pureza de intenção; «é sempre um pouco para nós, um pouco para Deus… E o caminho é purificar essa intenção”. As pessoas buscam Deus, mas também buscam a saúde, a cura».

 

Uns dias mais tarde, também na sua meditação matutina na igreja da Casa de Santa Marta, voltava ao assunto a propósito do Evangelho do dia, Mc 3, 31-35: é preciso rezar e pedir a Deus todos os dias a graça de entender e fazer a Sua vontade, para «fazer parte da família de Jesus». O Papa disse mesmo o que devemos pedir na oração: «rezar para sentir a vontade de seguir a vontade de Deus, rezar para conhecer a vontade de Deus e rezar, uma vez reconhecida, para realizar a vontade, que não é a minha, mas é a Sua».

 

Claro que, fazer a vontade do Pai «não é fácil», como repetiu várias vezes o Papa. «Não foi fácil para alguns discípulos, que deixaram Jesus porque não entenderam o que significava "fazer a vontade do Pai". Não foi fácil para o próprio Jesus, que foi tentado no deserto e também no Horto das Oliveiras. E para nós também não é fácil… Todos os dias nos são apresentadas de bandeja tantas escolhas… Como faço para fazer a vontade de Deus?» Rezo para que o Senhor me dê a vontade de fazer e cumprir ou tento negociar porque tenho medo da vontade de Deus?». Por fim, o Papa pediu que o Senhor nos conceda a graça de «um dia Ele possa dizer de nós aquilo que disse daquele grupo, daquela multidão que O seguia, daqueles que estavam sentados em à Sua volta: “Aí estão minha Mãe e meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha irmã”».

 

Reforcemos o ensinamento do Santo Padre com este extrato de um dos Sermões de Santo Agostinho (354-430) sobre o Evangelho de São Mateus: «Peço-vos que repareis no que diz o Senhor ao estender a mão para os Seus discípulos: “Aí estão Minha Mãe e Meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe”. Porventura não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que acreditou pela fé e concebeu pela fé, que foi escolhida para que d'Ela nascesse a salvação entre os homens e que foi criada por Cristo antes de Cristo ter sido criado n'Ela? Maria cumpriu, e cumpriu perfeitamente a vontade do Pai; e, por isso, Maria tem mais mérito por ter sido discípula de Cristo do que por ter sido Mãe de Cristo; mais ditosa é Maria por ter sido discípula de Cristo do que por ter sido Mãe de Cristo. […] Reparai, irmãos caríssimos: Também vós sois membros de Cristo, também vós sois corpo de Cristo. Vede como o sois quando Ele diz: “Aí estão minha Mãe e meus irmãos”. Como sereis mãe de Cristo? “Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe”».

 

Para “viver a vontade de Deus segundo os Mandamentos”, temos essa Mestra, extraordinária pedagoga, a Igreja Nossa Mãe. Como tal se revela especialmente na Quaresma, este tempo que nos conduz à renovação das promessas baptismais. Vale a pena recordar este belo texto de São Clemente de Alexandria (150-215), quase tão antigo como a própria Igreja: «Temos os dez mandamentos dados por Moisés […], e tudo o que recomenda a leitura dos livros santos, […] Mas temos também as leis do Verbo, a Palavra de Deus, aquelas palavras de encorajamento que não foram escritas em tábuas de pedra pelo dedo do Senhor (Ex 24,12), mas inscritas no coração dos homens (2Cor 3,3). […] Estas duas leis serviram ao Verbo para ensinar a humanidade, inicialmente pela boca de Moisés, em seguida pela dos Apóstolos. […] Mas também precisamos de um mestre para nos explicar estas palavras santas […]; será Ele quem nos ensinará as palavras de Deus. A escola é a nossa Igreja e o nosso único Mestre Jesus. Nós, que somos os discípulos desta feliz pedagogia, completemos o belo rosto da Igreja e corramos como criancinhas para esta Mãe cheia de bondade. Escutemos o Verbo de Deus; glorifiquemos a feliz disposição que nos guia através deste Mestre e nos santifica como filhos de Deus. Seremos cidadãos do Céu se formos bons discípulos deste Mestre na Terra e lá em cima compreenderemos tudo o que Ele nos ensinou a respeito do Pai».

 

No dia 11 de Fevereiro celebrámos a Memória de Nossa Senhora de Lourdes, actualmente Dia Mundial do Doente. Podemos fazer nossas, no termo desta meditação, aquelas que foram as intenções do Papa nesse dia: «Rogamos à Santíssima Virgem de Lourdes pela intercessão de Santa Bernadette, que o coração da humanidade possa voltar o seu olhar para Cristo e pelo testemunho de humildade, penitência e oração de Lourdes possa ser curado de todas as doenças físicas, morais, sociais e espirituais que o afasta de Deus e dos irmãos. E que Maria Imaculada nos sustente no nosso combate espiritual contra o pecado, nos acompanhe neste tempo favorável, para que possamos chegar e cantar juntos a exultação da vitória na Páscoa da Ressurreição».

 

Cónego Armando Duarte

Lisboa, III Domingo da Quaresma, 8 de Março de 2015


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