06/07/2025 :: Frei Miljenko Šteko para o blog Marys Meals: O amor eficaz como encontro evangélico
Frei Miljenko Šteko para o blog Mary's Meals: O amor eficaz como encontro evangélico
Publicado em Rádio Mir Medjugorje
Num mundo que mede cada vez mais o valor de uma pessoa pelo preço dos seus sapatos, pelo número de fiéis ou pela velocidade do consumo, onde a lógica do mercado se sobrepôs ao silêncio da consciência, permanece algo que não envelhece – algo que arde, não se apaga. É o amor eficaz, não o esculpido apenas na pedra das basílicas, mas o escrito nas feridas e nas mãos, nas gotas de suor e no silêncio do sacrifício. Uma Igreja que ama com obras, não apenas com palavras – e não como mero idealismo de monges extasiados em pergaminhos antigos, mas como uma realidade viva, silenciosa e persistente que, como um fio de ouro, atravessa os séculos.
Tendo diante dos meus olhos numerosos documentos eclesiásticos que consideraram este tema com profundidade teológica e seriedade pastoral, procuro, como um estudante diante de uma grande pintura, desenvolver a ideia de caridade – amor ativo.
Amor ativo – não é um acréscimo ao Evangelho, é a sua encarnação. É onde Cristo se torna visível no pão partilhado, nos doentes visitados, nas palavras proferidas com atenção interior. É aquele amor que não se cansa, porque não busca a si mesmo.
Já nos primeiros dias, quando a Igreja nasceu do Espírito Santo, quando o pão foi partido e com ele o coração, nasceu uma nova forma de serviço: uma comunhão que não reconhece nem ricos nem pobres, mas apenas irmão e irmã. Os Atos dos Apóstolos testemunham essa experiência primordial, quando as posses eram compartilhadas e as diferenças se dissolviam sob o olhar de Cristo ressuscitado. Esta foi a evangelização da vida cotidiana. Dos sete eleitos, "cheios de sabedoria e do Espírito", ao diácono Lourenço, que apresenta os pobres em vez de ouro aos gananciosos imperiais e diz: "Aqui está o tesouro da Igreja" – a Igreja ensinou que o serviço ao próximo não é um acréscimo social, mas um ato cristológico. Cada pedaço de pão partido em nome de Cristo, cada doente visitado em nome de Deus, é a realização das Bem-Aventuranças que o Evangelho de Jesus nos deu.
O falecido Papa Bento XVI nos lembra vividamente disso: o amor não é um acréscimo à Igreja – é parte de seu genoma. E se a Igreja parasse de amar com ações, deixaria de ser Igreja, seria uma casca vazia de espiritualidade, boa apenas para museus, mas não para vidas. Em Porta fidei, aquela carta discreta, mas espiritualmente poderosa, dele, há uma frase: "A fé sem amor eficaz não dá fruto, e o amor eficaz sem fé permanece um sentimento à mercê do acaso, nas ondas da dúvida". E, de fato, de que nos adianta carregar a verdade em nossos corações se ela não desce para a palma de nossas mãos? Se a convicção não produz pão? Se a confissão de fé não produz uma visita ao desamparado, uma refeição para o faminto, o perdão para o outro?
A caridade é uma forma de vida que brota da fé, da oração, da Eucaristia – como enfatizam numerosos documentos eclesiásticos. Só quem tocou a mão ferida de Cristo sabe tocar a ferida da humanidade. E é por isso que um verdadeiro agente da caridade não é um mero assistente social, mas uma testemunha, um místico da vida cotidiana, um homem que reconhece Cristo nos pobres, e não a si mesmo na bondade. Como é maravilhoso esse sentimento! Você já o sentiu em sua própria vida?
Numa época em que algumas das estranhas ações humanitárias do mundo são frequentemente medidas pela rentabilidade e a empatia é delegada a instituições, o crente deve perseverar e, como o samaritano, curvar-se sobre os feridos sem questionamentos desnecessários sobre suas origens e vidas. Não porque façam parte de alguma organização humanitária, mas porque são o Corpo Místico dAquele que disse: "O que fizestes a um destes pequeninos, a mim o fizestes". E não precisamos de muito: apenas de um pouco de óleo para as feridas do mundo e de um olhar que não olhe para baixo, de cima para baixo.
O amor de Deus não busca um palco sob os holofotes – busca um rosto. Nas Sagradas Escrituras, não se trata de qualquer entusiasmo romântico, mas do mandamento: Amarás o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo! (cf. Mc 12,29-31).
Mas esses mandamentos não são apenas lidos com os lábios – são vividos. Um coração que não ama a Deus não pode se aproximar de uma pessoa com amor. Pois como podes abraçar aqueles que não compreendes, se não fores abraçado por Aquele que te compreende até a cruz?!
Amar o próximo não significa apenas ser bom – significa ser de Deus. E é por isso que o amor de Deus assume o rosto de alguém que permanece, escuta, persevera e não desiste. O rosto de uma professora na Zâmbia, de um voluntário no Malawi, de uma criança que ri porque está satisfeita depois de muito tempo. O rosto de quem cozinha, compartilha e não esquece.
Ouso dizer que esse é o poder de obras como as Refeições de Maria – onde a fé se traduz em um prato, e o prato em dignidade. A 13 centavos por refeição e 22 euros por ano, alimentar uma criança não é um luxo, mas uma vocação. Em 16 países ao redor do mundo, a cada dia letivo, mais de 2,6 milhões de crianças famintas recebem sua única refeição quente. Essa refeição não é apenas comida – é a providência de Deus traduzida em realidade.
O sorriso de uma criança após um prato de phala no Malawi – sob uma árvore – não tem preço em cálculos terrenos. Aqui, o pão é compartilhado com fé. E para aqueles que doam nessa corrente, é uma quebra evangélica do próprio "eu" para que alguém possa aprender, viver, sonhar e dar um sorriso.
O amor cristão em ação não é uma ideia – é uma decisão. A decisão de não passar ao largo. A decisão de deixar as mãos falarem quando as palavras são tarde demais. A decisão de ver o rosto de Cristo em cada criança. E então o nosso olhar deixa de ser neutro – torna-se um chamado. Não abstrato, mas concreto. Porque amar também significa nutrir.
Num mundo afogado em afirmações, números e dúvidas, o amor ativo fala com simplicidade. Crianças famintas não podem esperar . E nós – se cremos – não devemos permanecer em silêncio e não fazer nada.
Medjugorje, lugar de silêncio, do olhar da Mãe e de Sua presença especial, e aqui um farol: onde Maria sussurra "reze, jejue, ame", nasce na Igreja um novo rosto dos fiéis. Aqueles a quem Nossa Senhora ensinou a amar ativamente. Portanto, essas obras concretas, como as refeições de Maria, não são "projetos" — são respostas. Respostas ao chamado de Deus que continua a ressoar: "Dai-lhes vós mesmos de comer".
A espiritualidade de Medjugorje deu origem a tantos convertidos que agora têm um coração que vê, mãos que não têm medo de se cansar, uma fé que não tem medo de se tornar pão. É uma espiritualidade que toca o mais concreto: bocas famintas, testas suadas, joelhos feridos. Uma espiritualidade que nasce da oração e do jejum, quando o corpo se cala e o coração fala: " Vai e faz! " Vai e não penses mais na tua aparência, mas sim em como amas. Vai e não partilhes sobras, mas sim a ti mesmo. Vai e entrega-te, como Ele Se entregou.
Padre Miljenko Šteko.
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